Baba Yaga é descrita em inúmeras lendas e histórias como um ser sobrenatural, manifestado como uma mulher velha, deformada e feroz. Ela é descendente de uma antiga deusa eslava regente da morte e da regeneração.
Baba Yaga voa em um almofariz, usando o socador como remo, e mora na escuridão da floresta, longe das moradas humanas, em uma cabana giratória, apoiada sobre pés de galinhas.
A aparência de Baba Yaga é desagradável: velha e muito magra, ossuda e corcunda, com nariz e queixo pontudos, dentes de aço, verrugas e pelos no rosto, cabelos emaranhados, seios caídos, longas e pontudas garras. Quando ela aparece, um vento forte começa a soprar, as árvores se dobram e gemem e as folhas secas rodopiam no ar, anunciando a chegada de um grupo de espíritos da floresta que acompanham Baba Yaga.
A sua conexão com pássaros indica a sua origem pré-histórica, como descendente das Deusas-abutre ou Deusas-corujas, personificações do poder da morte e regeneração. Nos contos folclóricos russos, Baba Yaga se alimenta bicando crianças ou adultos com seu bico de pelicano e dentes de aço, mas também é descrita como uma anciã amável e sábia.
No folclore húngaro ela era uma boa fada, que depois se transformou na bruxa malvada. para os romenos, Baba Cloantza era sinônimo da Mãe da Floresta, a anciã Guardiã dos mistérios das plantas e forças da natureza. A antiguidade do seu arquétipo persistiu na antiga Dácia no culto de pedras megalíticas com feições chamadas de Babas encontradas em vários pontos na Romênia.
Baba Yaga representa mais uma força da natureza do que apenas um símbolo de destruição. pode ser cruel e malvada, mas também sábia e benevolente, após testar a pureza da mente e do coração daqueles que a procuram. Neste sentido, ela representa a purificação que precede o renascimento, eliminando os resíduos perniciosos e os venenos das falhas passadas, limpando o terreno para que novas sementes possam germinar e crescer, melhor do que antes. Também é uma deusa da colheita, não apenas dos grãos, mas das pessoas, pois ela nos semeia, cuida, corta, guarda no seu ventre escuro e nos replanta novamente.
Baba Yaga é a eterna Mulher Selvagem da cabana, a feiticeira arquetípica, a Anciã, que viu tudo e que sofreu tudo; ela é ao mesmo tempo uma Russalka (ou ninfa das árvores) e a própria Mãe da Árvore do Mundo. Ela nos chama, exige de nós que deixemos nossa inocência primaria e a ingenuidade para trás, usando seus ensinamentos para aumentar os nossos poderes mágicos.
A cabana de Baba Yaga É o lugar da transmutação, o “coração escuro” do mundo subterrâneo, a morada dos ancestrais representados pelas caveiras ao redor da sua cabana. A floresta é o reino dos perigos, mas também da ajuda inesperada dos seres sobrenaturais e espíritos auxiliares.
Baba Yaga foi estereotipada como representação da escuridão, morte e decadência da idade. Porém, ela não é apenas o fim do ciclo, ela é o próprio ciclo, tanto a terra escura que cobre os mortos, quanto o solo fértil que protege as sementes antes da sua germinação. Seus testes são difíceis, sendo alcançados pela dor e o desapego e exigindo coração puro e sabedoria. Baba Yaga nos obriga a passarmos dos limites pré-estabelecidos, mostrando que somos capazes de muito mais do que imaginamos. Ela é o caos, a força que cria e destrói, que provoca as mudanças e nos obriga a encarar a própria fraqueza, descobrindo assim a nossa força. Porém ela guarda a “Água da Vida e da Morte”, tendo o poder de nos libertar da opressão e do domínio que outros detêm sobre nós.
Quando estamos prontas para sermos livres, devemos descer ao mundo subterrâneo e buscar a ajuda de Baba Yaga para descobrir o nosso verdadeiro ser, assim como Vasalisa voltou dos testes segurando o fogo que representava o seu poder. Mas a Velha da Floresta não fará o trabalho que é nosso, ela não age como uma Mãe protetora que apenas remove o sofrimento e desfaz as amarras. Como representação da Anciã sábia, Baba Yaga nos ensina como remover preconceitos e medos, separar as sementes podres das boas, descobrir outras perspectivas e alcançar o topo das nossas reais possibilidades.
Ela pode nos destruir ou iluminar, removendo as limitações da nossa personalidade, obrigando-nos a nos olharmos no espelho escuro do Mundo Subterrâneo e nos auxiliando a renascer ao despejar sobre nós a “Água da Vida”. A sua cabana não é agradável, nem bonita, seus testes são árduos e sua cura pode ser amarga e dolorosa se não estivermos abertas para olhar – sem recuar –, no espelho da verdade. Mas se tivermos a coragem e a determinação de ouvir sua voz sem medo, iremos aprender, crescer e nos transformar.
Texto: Mirella Faur